sexta-feira, 24 de julho de 2009

O que seria do mundo sem baratas?

Este texto é em resposta ao artigo “Desregulamentar profissões. Todas!” publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em Opinião, Fórum de Leitores de Terça-Feira, 21/07/2009, de autoria de Alexandre Barros, cientista político (acesse: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090721/not_imp405850,0.php).

 

Observo frequentemente, que ainda há muitas dúvidas quanto à profissão farmacêutica, da mesma maneira que com diversas profissões, algumas delas curiosas. Lembro de que quando criança; uma das minhas incógnitas era sobre a existência das baratas, eu pensava que, se o mundo não as tivesse, nenhuma mulher mais sensível sairia gritando com as mãos para cima, talvez a existência delas fosse justamente para isso, fazer com que os gritos existissem, e fazendo com que homens corajosos viessem atacá-las com chineladas potentes.

 

Desta forma, ao ler o texto do professor, sobre profissões, questionei realmente, a história das baratas, talvez por desconhecimento da profissão dos outros, esse cientista político não tenha tido a real noção do que estava opinando. Eu também desconheço o que um cientista político faz, mas se eles existem, deve-se ter algum motivo nobre, talvez ajudar o país, ou a região a se compreender melhor e resolver seus conflitos, cultura, educação, transporte, moradia, alimentação e claro, saúde. Então, ao pensar nisso, resolvi emitir a minha opinião e um pouco do que conheço para informar, não apenas ao cientista político, mas ao maior número de pessoas possível.

 

Saúde é uma das habilidades do profissional farmacêutico, citado no texto, no caso, a farmacêutica responsável da Lilly (produtora do Cialis), então, devo lembrar que para ter o “nome na caixinha”, o farmacêutico tem não apenas que ter a graduação, mas ser responsável em todo o território nacional, sobre a utilização do medicamento, se fosse apenas isso, porém, temos alguns itens que precisariam ser mais bem explicados, então vou fazê-los de forma bastante simples. Para se produzir um medicamento, precisamos de matérias primas, embalagens, equipamentos, pessoal para produzir e garantir que tudo saia exatamente como previsto, como determinado nos milhões de dólares gastos em pesquisa. Não preciso lembrar casos tais como os do laboratório Enila, em que uma substituição de matéria prima para o fabrico do Celobar, levando a morte mais de 20 pessoas. Talvez o cientista desconheça que casos como este, poderia ocorrer, diariamente, talvez por não representar um caos político.

 

Possivelmente ele não deve saber que a presença do profissional farmacêutico serve para regulamentar e também para servir de apoio técnico para que erros contra a saúde coletiva não ocorram. Apenas para citar temos as análises de controle de qualidade, tanto físico-química que garantem que as matérias primas não sejam adulteradas, não foram falsificadas e está de acordo com o especificado, podendo ser utilizadas para se produzir o medicamento, quanto microbiológico que garantem que estas matérias primas não contenham microorganismos (patogênicos ou não) podendo fazer com que a pessoa que os consuma não adoeça, além do processo produtivo que precisa ser de acordo com a realidade climática, assim como temos o controle de qualidade no produto em processo que garante que esta tudo bem durante a fabricação, fazendo com que os erros sejam cada vez menores e do produto terminado o qual, entre todos os testes, garante que um lote seja semelhante ao outro, e faz com que a pessoa que utilize o produto tenha sua ação no tempo ideal, sem riscos à saúde. Além disso, todas essas informações são processadas e avaliadas, e para isso, precisam de profissionais que entendam profundamente todos os papeis gerados durante a fabricação. Assim, pode-se comprar e utilizar o produto, obtendo o efeito no tempo e na intensidade esperada, sem riscos de falsificações, afinal de contas, esses profissionais, caso estejam agindo de forma incorreta, podem perder o direito de atuar como farmacêutico.

 

Agora, quando se fala na comercialização de um produto medicamentoso, entra-se com o farmacêutico que atua em drogaria, que diferentemente do que citado, a “entrega da caixinha”, se dá pelo balconista, mas dentre as tantas funções do farmacêutico, temos a assistência farmacêutica e a atenção farmacêutica, como primordiais, apenas para citar o caso do Cialis, com a atuação do farmacêutico, pode-se evitar o seu uso indevido, tanto por pessoa que não tenham condição física para o desempenho sexual, como para jovem que o adquirem apenas, única e exclusivamente para “garantir um bom desempenho sexual”, que neste caso, pode ocorrer o priapismo (ereção dolorosa e persistente podendo levar a impotência sexual definitiva, e também pode levar a amputação do pênis). Acredito que talvez isso não gere uma oportunidade ou risco político saber dessas informações.

 

Creio não ser necessário falar de todas as áreas que o profissional farmacêutico pode atuar, este, frente a sua formação básica e aos diversos cursos de extensão e de pós-graduação, se põe apto a atuar, nas áreas da medicina complementar (e não atuação da medicina deixa bem claro), e não “tratamentos alternativos” como citado no texto do Dr. Alexandre, pois induz ao erro, e a terminologia não deve mais ser utilizada.

 

Porém, o que eu acredito ser necessário, é uma avaliação profunda, não apenas dos interesses de um ou outro grupo, como citado pelo Dr. Alexandre Barros, “Há no Congresso brasileiro 169 projetos de regulamentação de profissões.” E também há o Projeto de Lei (PL) apresentado pelo Deputado Federal Mauro Nazif (PSB-RO) no dia 04.06.09, à Mesa da Câmara, que institui o piso salarial nacional para os farmacêuticos, quaisquer que sejam as suas atividades e segmentos de atuação. O piso fixado na matéria é equivalente a dez salários mínimos, ou seja, R$ 4.650,00, em valores de maio de 2009, cuja elaboração contou com a participação do Conselho Federal de Farmácia (CFF). E talvez, a participação do cientista político que é professor da disciplina “Sociedade Civil e Relações Internacionais” da UNIEURO, que fica no Distrito Federal e que também tem o curso de Farmácia com uma mensalidade de base de R$1.075,38, mas também é Membro do Conselho de Administração do Laboratório Teuto (Indústria Farmacêutica).

 

Posso ousar em imaginar que alguns dos problemas de saúde em nosso país, como o destino de verbas talvez venha justamente por esse tipo de pensamento político, muitas vezes fundamentados em apenas um dos lados da moeda, ou por interesses que podemos apenas tê-los em mente. Talvez, se pensarmos bem, as baratas são necessárias realmente, para se manter o equilíbrio ecológico, evitando o caos. Então, que vivam as baratas!

 

 

Cristiano Ricardo, farmacêutico, engenheiro de cosméticos, é professor do ensino superior no curso de farmácia.